Guia de Viagem

Férias. Isto lembra sonhos, que lembra roteiros, que lembra malas, que lembra hotel e por aí vai. Férias trazem lembranças boas, ruins e engraçadas. Hoje esqueceremos as tristes, mas convenhamos, é frustrante quando algo sai errado. Levar “o bolo” nas férias é horrível.

Já tive algumas experiências. Não que eu seja uma pessoa muito viajada. Para “ fora” fico classificada entre turistas eventuais, mas aqui dentro, já rodei alguns quilômetros.

Desde jovem, viajei em carro próprio, em moto, em ônibus, em catamarã (gostaria de esquecer) e até avião. Já me hospedei em hotéis, motéis, pousadas, casa de amigos, casa de parentes, quarto de aluguel.  Aliás, o quarto de aluguel em Santana do Livramento, que eu morra com 100 anos, jamais esquecerei.

Já fiz loucuras e cometi extravagâncias, mas viagem é para isto, sair do convencional. Já comi bem, já comi mal e em outra viagem, nem comi. Teve viagem que passei calor e em outra, muito frio. Lugares que eu me agradei, lugares que me encantei e lugares que me apaixonei. Alguns que eu não preciso voltar, outros que eu até voltaria. Outros, porém, já voltei.

Em algumas viagens me emocionei, mesmo sendo pertinho, “tipo assim” para conhecer as igrejas do Mirim, em Imbituba e de Pescaria Brava. Achou engraçado eu contabilizar como viagem? Contabilizo sim!

Existiu o sonho de conhecer estas duas importantes obras da arquitetura (ficou faltando conhecer a da Estiva, construída na mesma época), preparar a máquina fotográfica, aquela com filme que ninguém usa mais, estudar e entender o contexto da construção. Isto me emociona.

Em férias já senti saudade. Saudade da família, saudade da casa, dos bichos e até do trabalho.

Poderia escrever de tantas vivências, mas a crônica em questão é para falar de um sentimento que acontece durante nossas viagens que de fato toca o coração, proporcionando-nos uma certa ansiedade. Não é certamente a emoção da ida.

A emoção que me refiro é a da volta, do retorno para casa onde reconhecemos cada curva, cada placa, cada árvore. Tudo isto é sinal de que você está voltando para casa, então, você fecha os olhos e pensa que o bom da viagem não é a ida, o bom da viagem é a volta porque nada é melhor que a casa da gente, que pode ser simples e pequena, mas é o nosso canto.

E você já sentiu esta sensação?

Nossos Filhos

“Eu te amo, tu me amas e a vida é bem-vinda                                                                                                                              Sou feliz, bem feliz, penso sempre o melhor                                                                                                                                  De você e de mim, no universo sem fim                                                                                                                                          Só o amor por você, fez o mundo nascer”

Início dos anos 90, o psicoterapeuta, Ivo Fachini, em um treinamento, nos ensinou a cantar esta canção. Na época, ele nos alertou que não era uma canção comum. Ela na verdade, fazia parte de um processo terapêutico que ele utilizava. Nos deu este presente e incentivou cada aluna do treinamento cantar para o filho ou para qualquer criança que precisasse de um alento. Sim, a música segundo ele, era um alento para as horas difíceis. Já a letra, por falar do universo do amor e do amor no universo, faria muita diferença na construção da autoestima e superação de alguns bloqueios ou obstáculos que porventura, viessem a surgir. Era um processo de médio e longo prazo para a família perceber o resultado deste pequeno investimento.

Quiçá, pudessem voar desta tela, todas as palavras (em ordem) e repousar no colo de quem proporcionou esta revolução na vida de meus filhos.

Quiçá tivesse eu a oportunidade de dizer: Sim, Ivo Fachini, você estava correto.

Bom mesmo, era contar da proeza que foi subir num palco e cantar para quase mil pessoas esta música, segurando a mãozinha pequena e frágil de Marina, que orgulhosamente me empurrou para o palco dizendo que eu cantava a música mais linda que uma mãe podia cantar.

Tomara que a tecnologia ajudasse a contar que mesmo depois de adultos, em dois momentos distintos, eu tive que buscar forças para entoar a música para cada um deles, depois de ouvir: Eu preciso que tu cantes aquela música para mim!

Eu sabia que naqueles dois momentos, algo não estava bem, a música seria o antídoto para a dor.  E foi! Para nós! Esta cantiga me uniu de tal forma aos meus filhos, que acabou virando praticamente uma oração.  É pura química. Posso cantá-la em voz alta ou em pensamento. E quando estou longe deles eu fecho os olhos, penso em cada um e canto:

“Eu te amo, tu me amas e a vida é bem-vinda,

Sou feliz, bem feliz, penso sempre o melhor..........................”.

Aproveite este início de ano para relaxar e cantar para seu filho a música que vem do coração.

Amores Platônicos

Prestes a virar o ano, e desejar um 2016 com muita saúde e muito sucesso para você e todos que estão a sua volta, gostaria de fazer um convite para viajarmos no tempo. Feche os olhos e volte comigo para a década de 70.

Os anos de 1977 e 1978 foram difíceis para minha mãe, penso eu hoje.
Estava com 13 para 14 anos, morava numa cidade do interior, quando tive uma paixão platônica. A segunda na verdade, pois a primeira foi com o meu professor de português, que manteve-se no anonimato, até agora.
Esta segunda, porém, veio acompanhada de muito sofrimento, pois cresciam juntos, o amor e as gozações da família e amigos. O meu irmão mais velho não tinha nem um pouco de piedade. Me chamava de “retardada”, termo muito utilizado naquela época.  Até que mamãe percebeu o perigo que a situação se tornava. Eu chorava, não comia e ainda sonhava casar de véu e grinalda. Meu Deus, quanta insanidade! Fazer isto com uma mãe.

 

Muito trabalho, muita conversa e jogo de cintura, especialmente de mamãe, e as coisas foram ficando mais calmas, até que um dia, a fantasia foi dando espaço a realidade.

 

Nesta altura, sobrava um pouquinho só de esperança que o cantor Peninha viesse fazer um show em Braço do Norte, cidade onde eu morava, para me encontrar e finalmente me pedir em casamento.

 

O show não aconteceu e finalmente coloquei um ponto final naquele “martírio”. Mas, para piorar, surgiu um novo amor. Rei morto, rei posto, conforme diz o ditado. O primeiro amor morreu e deu lugar a outra paixão da minha vida.

 

Lindo, forte e educado. Usava terno e sem a gente perceber, aparecia com uma capa vermelha e voava. Ele era o Super Homem. Eu suspirava e sonhava voar nos seus braços depois de derrubar aquela tal de Lois Lane que ele insistia em conquistar.

Até que um dia eu caí, não dos braços do Super Homem, mas caí na realidade. A sorte é que as lembranças não caíram no esquecimento. Tudo isto faz parte do universo juvenil, permitindo que esta experiência junto com as outras vividas com intensidade, me tornassem esta cinquentona tão feliz, especialmente neste caso, por ter amado estes homens que só existiram na minha imaginação.

E você, já teve um amor platônico?

Dona Arlete e seus fuxicos

Seu comportamento foi surpreendente. Não que os anteriores não tenham sido, mas este em particular, representou muito na minha vida.

Para salvá-la, tive que autorizar a colocação da bolsa de colostomia mesmo sabendo que aquilo mudaria a vida dela completamente, ainda mais naquele tempo, em que este assunto era pouco comentado pelo medo da rejeição.

A surpresa veio da reação dela diante desta adversidade. Foi aconselhada a procurar ajuda psicológica, mas foi no trabalho manual que ela driblou as dificuldades que esta patologia trazia para os pacientes daquela época.

A escolha do fuxico trouxe um ar de alegria para a casa e para ela. Era tecido por todos os lados. Tecido na caixa e fora da caixa.

Tecido cortado, tecido riscado, tecido comprado e ainda ganhado. Tecidos listrados, tecidos bordados. Tecidos amassados e até rasgados.

A casa também se encheu de carretéis de linhas, lápis, canetas e tesouras. E o que dizer das temidas agulhas, perdidas nos sofás? Estas mesmas agulhas que davam formas aos fuxicos, espetavam também as nádegas e mãos dos mais afoitos que sentavam ao seu lado,  para fazer-lhe companhia ou dar-lhe um beijo.  Muitos ais eu ouvi.

Quase aprenderam a fazer fuxico, a Lindinha, cadela que acompanhou esta artesã por todo o tempo, e os diversos gatos que se aventuravam pelas caixas espalhadas pela sala.

A nossa diversão ficava por conta da “falta de vista” dela. Era chegar um neto que ela já sorria e pedia:  "Aqui, risca aqui que a vó não enxerga mais". Uns riscavam, outros cortavam e assim, os quadrados ou as tiras iam ganhando forma.

Quando vejo minha colcha, lembro dos seus lindos olhos verdes me agradecendo ao invés de cobrar. Aqueles 18 meses sem poder sair de casa e fazendo seus fuxicos, foram, segundo ela, um tempo precioso da vida. Uma vida de diversão e de aprendizado em cada arremate e finalização.

Fica aqui uma reflexão. Como nos comportamos diante das adversidades?

 

Laranjinha

Radicalizamos no almoço hoje. Optamos por um bar, um lanche e uma laranjinha Água da Serra.  Mas, não radicalizamos na quantidade, já que a laranjinha foi dividia. Você pode estar rindo e pensando: como duas pessoas adultas dividem uma laranjinha?

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O que não imaginava, no entanto, com esta divisão, era o desfecho que seria trazido ao nosso almoço. No meu copo, 3 dedos do precioso líquido. Já minha filha, escolheu abrir mão do copo e matar a saudade, tomando a laranjinha, no bico.

Nem tive coragem de fazer qualquer objeção, sequer olhar de modo repreensivo, afinal, o que tinha que ser ensinado nestes 24 anos, já havia sido. Aquela atitude não foi por rebeldia ou ausência de educação. Aquele gole, na verdade,  tinha como acompanhamento os olhos fechados e um sorriso nos lábios. Depois com os olhos abertos e mirando a garrafinha, soltou um haaa de satisfação, misturado de saudade.

Sorrindo, falou: lembra dos nossos aniversários com a mesa decorada com estas garrafinhas?  Dos nossos recreios na escola? Os passeios na casa do pai?

E ali o papo rolou descontraidamente, trazendo a tona, todas as lembranças de infância. E a medida que as lembranças vinham, vinham também, os risos e as gargalhadas.

Numa época de tanta tecnologia, tanta informação, me chamou a atenção quando ela segurou a garrafinha e, depois do último gole, sorriu e disse: ENVASE A NOSTALGIA.

E você, que boas lembranças trazem a sua infância?

 

O Abraço de Dois Gigantes

Quando amar é o que importa!

 

Ao ler a declaração de amor que meu filho fez esta semana no facebook, parei para refletir. Sua capacidade de expressar aquele amor, através da escrita, teria sido fruto da minha educação? A influência dos avós, tios e primos? O pai adotivo, tão presente, pragmático e questionador?  O meio em que viveu até aqui, ou, “esta criatura já veio pronta”?                                         Sim. Porque os antigos insistiam em dizer que “o bom, o ladino, o educado, o trabalhador, já nasce pronto”!

Hoje penso que a educação vem de casa, evidentemente, mas, o que faz um jovem manifestar o seu amor a outro jovem de forma tão franca e tão verdadeira?  Porém, o que mais me encantou, naquela narrativa, foi falar do seu amor, sem ter a mínima preocupação com o que os outros vão pensar?  Aquela tão famosa preocupação que nos poda e o pior, tolhe nossa felicidade.

Quantas coisas deixamos de fazer por conta desta “preocupação”?  Quantos medos, quanta angústia e quanto peso carregamos desnecessariamente?

Lendo os comentários, percebi que talvez para os homens esta questão seja mais fácil. Não existia nenhuma disputa aparente. Solidariedade pura e simples entre eles.  Até os palavrões, soam em forma de elogios. Outros jovens também manifestaram o carinho pelo aniversariante, mas outros, manifestaram os parabéns para o meu garoto, pelo gesto e reconhecimento de uma amizade que já dura mais de duas décadas.

Que bom poder amar sem ter vergonha. Que bom poder demonstrar o amor, por gestos ou palavras. Abraços e elogios mudam a vida das pessoas. Acredito que este estímulo e o contexto vivido por meu “pequeno” nestes quase 25 anos, tenha permitido criar e mostrar através desta declaração, o momento sereno que vive o seu coração nesta relação de amizade.

No final do dia, a declaração ficou eternizada em um forte abraço deste amigo, do alto de seus quase 2 metros de envergadura.

E você tem declarado o seu amor?

Mulheres incríveis

Hoje assisti este vídeo que me fez mergulhar na narrativa de Francine Christophe. Fiquei imaginando a luta destas mulheres em épocas de guerra. Neste especialmente, na mulher grávida  no esforço para dar à luz. Um reflexão de partilha, união e reconhecimento. Assista e emocione-se. Bem, pelo menos foi o que aconteceu comigo.

Naquele tempo…

Naquele tempo........

A expressão meio século nos remete há um período tão distante.  Velho, antigo e até ultrapassado. Mas, se mencionarmos cinquenta anos, nosso posicionamento já muda.   Tratando do tempo vivido por uma pessoa, meio século ou cinquenta anos, é tão pouco.

Minha avó, usava roupas bem comportadas e um lenço que adornava o seu lindo rosto. Tinha cara de senhorinha que pedia um afago, um carinho, somente com os olhos. Vó Ida, falava baixinho, andava com cautela. Tinha sempre  um agrado em sua bolsinha, para cada neto que chegava, que invariavelmente era uma bala ou uma moedinha, ensinando desde cedo, a importância da economia.

Para ajudar na economia doméstica, já naquele tempo, fazia panos de tarrafas, enquanto ouvia o rádio. Aquela velhinha era rigorosa quando o assunto era desperdício na hora da comida. Nenhum de nós, arriscava deixar sequer um grão de arroz no prato. Com isto, aprendemos ainda na década de 60, a lição contra o desperdício.

Esta mesma velhinha nos colocava para dormir no chão. Fecho os olhos e lembro da algazarra. Quem dormia antes de boas risadas e muita história a ser contada? Era uma época sem computadores, sem celulares, onde a luz era apagada cedo, para que todos dormissem, para acordar cedo, pois o mar da Vila Nova era a certeza de um dia pra lá de divertido. Enquanto íamos para a praia, o cavaquinho era feito, o pão era sovado, pois a netarada era numerosa e não existia padaria nos moldes das atuais.  Aliás, nem padaria e nem dinheiro para ser torrado com “mistura” para o café.

Já adulta descobri que aquela velhinha tinha apenas 50 anos. Hoje com 52, estou iniciando uma fase nova em minha vida, ou seja, pedi minha aposentadoria após 39 anos de trabalho, para lançar-me como palestrante, sentindo-me completamente jovem para esta nova fase.

Interessante é que hoje a visão que tenho desta minha juventude não tem nenhuma semelhança entre eu e minha vó.  Talvez seja pelo fato de ainda não ser avó, ou do meu guarda roupas ser constituído de peças tão diferentes daquela velhinha. Acabo de comprar uma calça jeans, uma camiseta e um par de tênis para iniciar minhas viagens, pensando no conforto e na possibilidade de correr entre um aeroporto e outro.

Ao voltar esta semana na Vila Nova, eu senti saudade do abraço da minha vó, porque casa de vó,  é a melhor coisa que existe no mundo!

O Medo e o Enfrentamento – Fevereiro 2016

Quantos medos desenvolvemos ao longo da nossa vida? Quantos deles são herdados? Quantos adquiridos? Quantos ignorados e outros demasiadamente valorizados? Mas medos são medos e por se tratar de uma patologia, trato deste assunto com muito respeito.

Medos que rasgam a alma e nos impedem de sermos livres.

Escrevo hoje sobre um medo que não me trouxe tanto prejuízo, mas poderia ter privado-me de muitas alegrias, se eu não tivesse tido a coragem do enfrentamento, através da disciplina, determinação e do estímulo de algumas pessoas.

Escrever nunca foi o meu forte. Minha comunicação sempre foi muito verbal. Mas, a medida que a necessidade da comunicação escrita aumentava, na mesma proporção aumentava minha ansiedade.

Chegava a fazer até 10 revisões de cada e-mail, carta ou protocolo na empresa. Fechava os olhos e imaginava as pessoas rindo dos erros de concordância ou pontuação. O medo da reprovação me apavorava.

Meu primeiro TCC quase me levou para o hospital, tal o nível de preocupação e dificuldade de ajustes entre uma citação e outra. Eu padecia, pois nunca estava satisfeita. Meu marido, lia e relia. Segundo ele, poucos ajustes eram necessários, mas o medo da reprovação era maior.

Já no meu segundo TCC, a situação foi melhorando. O número de intervenções do meu marido foi bem menor e no meu terceiro TCC ele praticamente não me ajudou. “Está na hora de você caminhar sozinha. Esta na hora de acreditar em você”.

Não só comecei a acreditar como comecei a gostar de escrever. Assim, as primeiras 50 páginas que originaram a minha primeira palestra “Afetividade e Resgate de valores”, começaram a ser escritas sem o medo da reprovação.

Começava ali uma transformação. E já nem chamava ninguém para ler e aprovar. Eu escrevia e apagava. Escrevia e apagava, muito mais fácil com a tecla delete. Do computador algumas frases pularam para o powerpoint, processo que se repetiria com as demais palestras que foram surgindo.

Outro passo, foi começar a escrever no facebook e receber o apoio de um outro grupo. Curtidas daqui, comentários dali, até ser convidada para escrever no site do Cliquerh.

Cada vez que começo escrever para para aquele ou este espaço, penso em você lendo e colocando-se no meu lugar. Sentindo a mesma emoção. Emoção de enfrentar, de lutar e vencer um de meus medos.

Acredite em você, enfrente seus medos!